Há algumas décadas que se fala nas “Passive Houses” em tradução direta, casas passivas. O conceito foi aprofundado na Alemanha há cerca de 40 anos e desde então têm sido desenvolvidos muitos estudos e construídos muitos edifícios por todo o mundo, segundo este padrão.

A designação “Passive House” refere-se a “…um conceito construtivo que define um padrão de elevado desempenho, do o ponto de vista energético, saúde, conforto, economicamente acessível e sustentável.”

Um edifício “Passive House” é aquele cujo conforto térmico é garantido com uma baixa quantidade de energia. O conforto térmico pode ser atingido através do aquecimento ou arrefecimento de ar fresco necessário para garantir a qualidade do ar interior, sem uso de ar recirculado. Esta definição é válida para qualquer clima.

Mas será este conceito assim tão recente?

Em muitas regiões do mundo se houver preocupação energética na conceção e construção de um edifício não haverá necessidades de aquecimento ou arrefecimento artificial. Portugal é um país privilegiado, pois tem algumas dessas regiões. Nestes locais sempre foram construídas casas passivas, apesar de não serem reconhecidas como tal.

Na Idade Média na Islândia as casas eram construídas em madeira, contudo nos séculos XVII e XVIII a madeira escasseou e os islandeses começaram a construir casas com erva. A necessidade faz o engenho e assim se construíram casa passivas, mesmo sem janelas adequadas ou ventilação suficiente. Os islandeses rapidamente descobriram que as casas bem isoladas com este material permaneciam quentes por si.

Casa tradicionais com relva na Islândia

A primeira Casa Passiva funcional na verdade não foi uma casa, mas um navio polar, o Fram of Fridtjof Nansen (1893). O casco do navio era forrado com feltros e cortiça. A claraboia, que estava mais exposta ao frio, era protegida por três painéis de vidro, um dentro do outro.

Navio Polar “Fridtjof Nansen”

Há alguns séculos que existem exemplos de casas passivas, no entanto com problemas significativos que hoje não poderiam ser admitidos, por exemplo a estanquidade ao ar e o desempenho das janelas.

A grande questão era: como transpor e melhorar esse conceito para outros locais, climaticamente mais exigentes?

Já no seculo XX foram feitos estudos e foram construídos edifícios segundo a ideia “Passive House” em locais como a Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Áustria e Suíça. Mas foi só em maio de 1988, que o padrão “Passive House” foi estabelecido pelos professores Bo Adamson e Wolfgang Feist, dois anos depois da primeira casa ser construída em Darmstadt, na Alemanha.

Hoje o conceito é claro e o desempenho de um edifício “Passive House” tem que incluir o conforto térmico (no Inverno e no Verão), a qualidade do ar interior e consumo de energia de forma eficiente.

Tal como a “física dos edifícios” é igual em todo o mundo, também o conceito “Passive House” é igual em todo o mundo, no entanto os detalhes construtivos são adaptados ao clima de cada zona do globo. Como é de esperar um edifício Passive House no Alasca é completamente diferente de um em Angola.

Um edifício “Passive House” é desenvolvido tendo por base o respeito pelos princípios da física dos edifícios (independentemente do local onde está inserido), evita o surgimento de patologias e tem o seu desempenho otimizado.

O facto de evitar patologias como a formação de bolores e humidades contribui para o bem-estar e saúde dos seus ocupantes. Aliás, o ambiente interior é caracterizado pela boa qualidade do ar, conforto térmico (temperatura mínima 20ºC e máxima 25ºC) e inexistência de grandes variações térmicas. Estes fatores permitem um ambiente saudável e até um aumento na produtividade dos ocupantes.

As “Passive Houses” são edifícios com o mais elevado padrão de eficiência energética a nível mundial, sendo que as poupanças energéticas podem atingir os 75% comparativamente com os edifícios tradicionais. O conceito está testado e provado e corresponde inteiramente à definição do NZEB – Nearly Zero Energy Building (edifício com necessidades quase nulas de energia).

É relevante perceber que os custos operacionais deste tipo de edifício são bastante mais baixos que de um edifício convencional devido às reduzidas necessidades energéticas e de manutenção. Por outro lado o custo de construção é semelhante ao de um edifício tradicional.

O facto de serem edifícios energeticamente eficientes permitem uma drástica redução de emissões de CO2, e desta forma o conceito contribui também para a proteção ambiental pela menor dependência de combustíveis fosseis. As baixas necessidades energéticas de uma “Passive House” podem ser facilmente supridas por fontes renováveis de energia.

Apesar da ideia de casas passivas existir há centenas de anos o conceito está hoje adaptado às exigências e métodos construtivos e tecnológicos atuais. Está adaptado às exigências de conforto, de qualidade do ar, ambientais, energéticas e económicas da sociedade atual.

Notícia original: https://energyshield.pt/obra-nova/afinal-casas-passivas-existem-ha-centenas-de-anos/